Essa semana aqui em Salvador quem tem o costume de assistir telejornais na hora do almoço, chocou-se (ou não) com uma reportagem bem peculiar, tratava-se do caso de duas garotas de 16 anos cada uma e que segundo elas, foram convidadas a entrar no ônibus da banda que assistiram ao show para tirar fotos e pegar autógrafos do vocalista da banda de pagode, mas acabaram sofrendo abusos sexuais de 10 homens que estavam dentro do ônibus, e entre eles estava também o vocalista. Se caso quiserem mais detalhes podem procurar em sites de jornais da região, mas se você é soteropolitano com certeza ouviu falar do caso nas ruas pelas conversas de populares.
Bom, ontem eu estava na rua e parei numa lanchonete, enquanto esperava ouvi o rapaz responsável pela chapa, falando que: "as meninas é que foram as culpadas, que já foram com a intensão de fazer sexo com um ou dois caras, só que os outros não iam ficar só olhando sem fazer nada porque não eram otários" e ainda disse que se fosse com ele e os amigos dele estivem presentes, também faria o mesmo: "dividiria" as meninas com mais 9 amigos ou quantos estivessem na hora.
Eu fiquei chocada e não sei porque ainda me choco, mas o nível de desrespeito a vida, a livre vontade e ao sexo feminino é de uma forma tão imensurável que já chegou ao nível desumano. Esse caso foi a gota d'água para eu chegar a algumas conclusões, um dia antes desse caso vir ao ar eu tinha ouvido no rádio enquanto trocava de estação para ouvir alguma coisa pra dormir, uma música também de pagode cujo o refrão é assim: "Uma senta no colo do pai Outra senta no colo do filho"...
Queria poder escrever o que o vocalista diz enquanto canta mas como não consta na letra não posso escrever.Enfim, se você ouvir essa música parece-lhe que é cantada hora por um adulto hora por uma criança. O que me deixa intrigada é, que se você castigar o seu filho por ele afanar uma borracha do colega da escola e seu vizinho desocupado ver, em instantes terá uma viatura com policiais pra lhe levar a delegacia e lhe dar chás de cadeira falando sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, falando da Lei da Palmada e lhe dizendo como deve deixar seu filho crescer sem limites, começando por afanar borrachas e terminando por liderar uma boca de fumo. Mas curiosamente o Estatuto da Criança e do Adolescente não proíbe que músicas como essa sejam cantadas por crianças. Porque uma vez gravada por uma criança nada impede que várias crianças cantem e passem adiante. Certa vez em Salvador ficou proibido(depois de dias e dias tocando nas ruas) a música Lobo Mal, porque incitava coreografias sensuais pelas crianças e dava a entender que o "lobo mal' era bonzinho, contudo um estuprador com a música na ponta da língua faria sexo com uma criança usando a música e a coreografia e a criança nem perceberia o abuso.
Mas e essa música? E todas as outras músicas dessa natureza hostil? O que acontece com as pessoas que se esquecem de pensar? E onde está a polícia para manter a ordem, que não proíbe crianças em bares e festas de ruas onde toquem essas músicas? Essas músicas não poderiam nem tocar nas rádios! Lembro-me com incerteza da data, acho que em 2007, de uma lei que vigorou em Salvador e na Bahia, não lembro se no restante do Brasil também, tenho quase certeza que sim; uma lei que obrigava a ronda policial escolar a garantir que qualquer menor em idade escolar que estivesse fardado e fora das dependências escolares, a ser levado a escola e chamariam-lhe os pais para que tivessem conhecimento do que seu filho fazia. Essa lei era ótima, as crianças e adolescentes estavam a salvos de terem seus primeiros contatos com aliciadores de menor, traficantes de drogas, de contraírem uma gravidez indesejada. Mas era tão boa e tão rígida que fracassou...os pais dos alunos não gostavam de serem chamados nas escolas "por nada", queriam chegar lá e saber que seus filhos entraram armados na escola e atiraram no colega ou no professor, ou ainda no porteiro que não permitiu sua entrada por conta de seu atraso, ou ainda o comunicado pela diretora que sua filha de 12 anos estava grávida, e que tinha medo de contar para sua mãe. Mas não queriam ser chamados para saber que seus filhos foram encontrados em horário de aula, fardados e fora da escola no fliperama com outras pessoas, ou na rua tomando bebidas e fumando cigarros, não, eles não queriam ser chamados para prevenir, as pessoas não gostam de prevenir, preferem chorar miséria e remediar, por essa razão a lei saiu de vigor.
Estamos a vontade, temos liberdade para ouvir o que quisermos, sem ditadura do som, podemos ver o que quisermos, podemos viver de qualquer maneira, e porque que ainda não sabemos tomar conta de nossos filhos? A maldita sociedade tão maleável e sensível as críticas não sabe mais o que fazer. Lembro que quando criança ouvia a diretora repreendendo os alunos em sala de aula e repreendendo os pais na diretoria, lembro que ela falava que educação vinha de berço e a escola só complementava e que o mal comportamento dos alunos é resposta da má educação dos pais.Levei aquilo pra minha vida. No ensino fundamental a educação já era obrigação da escola, e não me refiro a educação acadêmica, me refiro a educação primária, aquela que diz que se deve respeitar os mais velhos.Os pais estavam tão ocupados com dois empregos para arcar com as mesmas despesas que antes eram arcadas com único emprego que não tinham tempo para acompanhar a educação dos filhos. Já no ensino médio foi desastroso, eu via professores tendo que implorar silêncio dos alunos para conseguir dar alguns poucos minutos de aula, a educação foi ficando escassa, pobre, e os professores ainda eram ameaçados pelos alunos e pelos pais dos alunos quando seus filhos eram reprovados. Deus, onde vamos parar?
Então é isso, caminhamos de mãos dadas em sociedade pro declínio da mesma. Só quero estar longe daqui quando o estupro e o espancamento a mulher deixarem de ser um estímulo velado e cantado e passar a ser descarado mesmo, pra qualquer um ver. Quem tiver suas mães, mulheres e filhas que as guarde em seus porões longe do mundo lá fora...
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